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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Uso e abuso de drogas como um comportamento respondente

Antes de começar a falar sobre o comportamento respondente e o abuso de drogas, vou fazer uma pequena revisão sobre o que seria o comportamento respondente evidenciando seus principais conceitos.
No início de século XX, o fisiológo russo Ivan Pavlov iniciou alguns estudos sobre processos digestórios envolvendo cães como sujeitos. Em seu clássico experimento, Pavlov e seus colaboradores notaram que cães salivavam diante de aspectos do ambiente que precediam a apresentação do alimento. A salivação então produzida por esses novos estímulos ficou conhecida como reflexo condicional, sendo o processo que o ocasiona denominado de condicionamento reflexo, condicionamento clássico ou condicionamento respondente como é usualmente conhecido.
No comportamento respondente, a relação básica a ser analisada é entre as instâncias ou unidades básicas de estímulo e resposta (S-R). Nesse tipo de comportamento, as respostas são eliciadas pelos estímulos, o que o diferencia do comportamento operante, onde que é estabelecido e mantido por suas conseqüências. Então se afirmamos que um alimento elicia uma resposta de salivar (no caso do experimento de Pavlov) e o uso da morfina analgesia, estamos diante de respondentes incondicionais, cuja função é garantir o equilíbrio fisiológico do organismo, sendo os primeiros caracterizados como estímulos incondicionais (US) e os demais como respostas incondicionais (UR).
Para o comportamento respondente o que deve ser levado em conta é que os estímulos eliciam respostas a despeito da história pessoal de cada organismo. Assim, respondentes incondicionais dependem da história de variação e seleção responsável pela construção da espécie.
Como já fora dito, alguns reflexos incondicionais podem passar a ser emitidos após a apresentação de novos estímulos como aconteceu no caso dos cães de Pavlov. Estímulos que inicialmente eram neutros passam a eliciar as mesmas respostas antes evocadas pelos estímulos incondicionais. No entanto, isso só é possível quando existe uma história de relações condicionais entre esses estímulos (um depende do outro para existir), no caso, uma relação de contingência entre um ambiente e outros aspectos do ambiente (S-S). Desta forma, o estímulo da nova relação respondente passa a ser denominado de estímulo condicionado (CS) e a resposta eliciada de resposta condicionada (CR).   
O fato de haver essa relação de dependência entre esses estímulos sugere que a temporalidade dessa relação, o que demonstra que possa haver extinção de respondente quando a contingência é quebrada. Ou seja, quando o CS é apresentado sem que seja também apresentado o US, o CS perde sua função eliciadora gradativamente, deixando de eliciar o CR.
Agora que revimos os principais conceitos sobre o comportamento respondente vamos adentrar ao assunto do nosso trabalho: o abuso de drogas. Pavlov (1980) pontuou que a administração de uma droga pode ser entendida a partir dos conceitos aplicados ao condicionamento. O efeito de uma droga pode ser visto como uma UR eliciada pelo agente farmacológico em ação no organismo; na mesma medida, a situação de aplicação da droga pode ser vista como um CS, por estar precedendo a droga no organismo. Como no exemplo da morfina na qual a droga desempenharia o papel de US que eliciaria o efeito de analgesia como UR.
Muitas implicações para compreender o abuso de drogas podem ser depreendidas do conhecimento que temos acerca do comportamento respondente, tendo em vista que os efeitos de uma droga sobre um organismo são vistos como reações incondicionais à droga. Entre essas implicações destacam-se: a tolerância e a síndrome da abstinência.
A tolerância é entendida como a diminuição nos efeitos iniciais ao uso de uma droga ao longo de sucessivas administrações. Com o desenvolvimento de tolerância, torna-se necessária uma quantidade cada vez maior da droga para que sejam obtidos os mesmos efeitos iniciais. Um usuário de heroína pode chegar a consumir até 100 vezes mais a dose inicial, sendo que o efeito no seu organismo seria igual ao da dose inicial. 
Ser tolerante não implica dizer ser dependente. A identificação de dependência só pode ser feita a partir da existência da síndrome de abstinência. A síndrome de abstinência costuma envolver reações bastante severas e desagradáveis aos indivíduos e seus efeitos são opostos aos efeitos das drogas. Assim essa síndrome pode ser definida como um conjunto de sintomas de agrupamento e gravidade variáveis, ocorrendo em abstinência absoluta ou relativa de uma substância, após uso repetido e usualmente prolongado e/ou uso de altas doses daquelas substâncias (OMS,1998). A síndrome de abstinência é uma das principais causas de recaída e retomada do consumo de drogas.
   Entre os efeitos incondicionais de uma droga estão reações que compensam seus efeitos iniciais e é aqui que entra a explicação da tolerância ao uso de drogas. Quando se faz uso de uma droga, produzem-se efeitos opostos, que compensam os efeitos iniciais e mais característicos da droga. Tal fato tem relação com a homeostase do organismo: diante de uma alteração fisiológica, o organismo reage com processos regulatórios, compensando seus efeitos, no intuito de restabelecer o estado fisiológico anterior, o equilíbrio. Esse processo regulatório é desencadeado a despeito da experiência do organismo que recebe a droga, sendo, portanto, incondicional.
A partir do condicionamento respondente, o processo regulatório eliciado pela ação da droga no organismo pode passar a acontecer diante de novos eventos ambientais tais como eventos associados à ingestão/aplicação da droga, que estiveram associados aos efeitos iniciais das drogas, naquilo que podemos chamar de condicionamento de respostas compensatórias. Assim, o organismo “prepara-se” para os efeitos das drogas. Assim, a própria condição de aplicação pode funcionar como CS produzindo efeitos compensatórios condicionados que exigem cada vez mais uma quantidade maior da droga para produzir os mesmos efeitos iniciais.
Com relação à síndrome de abstinência, a apresentação dos estímulos condicionais que antecederam a ingestão da droga também pode ser suficiente para produzir os sintomas dessa síndrome. A simples apresentação desses estímulos pode eliciar todos os sintomas característicos dessa síndrome, ou seja, os efeitos opostos aos produzidos pela ingestão da droga.
Trabalhos de Siegel et al (1984,1998) demonstram como o processo regulatório eliciado pela ingestão da heroína pode se tornar condicional aos eventos associados à ingestão da droga. O mesmo autor em um estudo com ratos e tolerância à morfina (1975) demonstrou que a morfina no organismo do rato funcionava como US, que eliciava analgesia, e a condição de teste funcionava como estímulo condicional que eliciava a resposta compensatório de hiperalgesia.
Trabalhos de O’Brien (1976) também demonstraram que ex-usuários de drogas apresentam fortes sintomas da síndrome de abstinência em algumas situação ambientais que não perante à presença das drogas, tais como: visão de um colega utilizando a droga, falar sobre as drogas em uma terapia de grupo, olhar um cartaz de uma campanha sobre drogas, passar pelo local onde consumia as drogas etc.
Assim, a identificação do papel do condicionamento respondente quanto ao abuso de drogas deixa claro que esse fenômeno não pode ser somente descrito sob o ponto de vista farmacológico, deixando claro que processos comportamentais estão envolvidos na modulação dos efeitos de uma droga sobre o funcionamento fisiológico do organismo.

Psicólogo da Net 

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